Geralmente de causa desconhecida, que acometem crianças e adolescentes e afetam estruturas do sistema musculoesquelético, vasos sanguíneos e/ou outros órgãos e tecidos, com potencial impacto na qualidade de vida desses pacientes.

Apesar de relatos descritos desde 1897 sobre a percepção de que as doenças reumáticas também acometem as crianças e diferem em muitos aspectos importantes das doenças reumáticas em adultos, a reumatologia pediátrica é uma das mais recentes subespecialidades pediátricas, tendo surgido lentamente apenas após a Segunda Guerra Mundial, assumindo grande foco nos anos 60 e 70. Tornou-se uma especialidade bem organizada, com tradição de eventos científicos internacionais na Europa e nos Estados Unidos, o que impulsionou o desenvolvimento de renomadas organizações internacionais dedicadas exclusivamente à pesquisa sobre essas doenças, trazendo evoluções expressivas nas últimas décadas pelo conhecimento da fisiopatologia das doenças, através de bases imunológicas e genéticas, além de novas possibilidades terapêuticas.

As tradicionais doenças reumatológicas pediátricas incluem:
· Febre Reumática;
· Artrite crônica (Artrite Idiopática Juvenil);
· Doenças do tecido conjuntivo (Lupus Eritematoso Sistêmico Juvenil, Dermatomiosite Juvenil, Esclerose Sistêmica, Esclerodermia, Doença Mista do Tecido Conjuntivo, Síndrome de Sjögren);
· Vasculites: Púrpura de Henoch-Schönlein, Doença de Kawasaki, Poliarterite Nodosa, Arterite de Takayasu, Doença de Behçet, vasculites associdas ao ANCA, entre outras;
· Doenças autoinflamatórias: Febre familiar do mediterrêneo, Sarcoidose Juvenil, Dermatose Neutrofílica Atípica Crônica com Lipodistrofia e Temperatura Elevada (CANDLE), Síndromes Febris Periódicas Associadas à Criopirina (CAPS), Osteomielite Multifocal Crônica Recorrente (OMCR), Deficiência do Antagonista do Recetor de IL-1 (DIRA), síndrome de Majeed, deficiência de mevalonato quinase (Síndrome hiper-IgD), febre recorrente relacionada com NLRP12, Síndrome PAPA (Artrite Piogénica, Pioderma gangrenoso e Acne), PFAPA (Febre Periódica, Estomatite Aftosa, Faringite e Adenite), Síndrome periódica associada ao receptor do fator de necrose tumoral (TRAPS), entre outras.

O escopo da reumatologia pediátrica ampliou-se e abrange a avaliação de síndromes dolorosas, caracterizadas por dor musculoesquelética idiopática e recorrente na faixa etária pediátrica, denominadas como dor do crescimento, fibromialgia juvenil, síndrome miofascial, síndrome de hipermobilidade benigna, distrofia simpática reflexa, entre outras.

O reumatologista pediátrico, além de excelente pediatra clínico, é capacitado para diferenciar diversas condições que possam simular doenças reumatológicas infantis, por exemplo, doenças ortopédicas, infecciosas e neoplásicas.

Apesar de ainda não termos uma compreensão completa sobre todos os mecanismos que levam uma criança ou adolescente ao reumatismo juvenil, os grandes avanços científicos reumatológicos das últimas décadas abriram uma nova perspectiva para os pacientes acometidos, pela possibilidade de diagóstico precoce e tratamento adequado, quesitos fundamentais para o alcance do bom prognóstico e qualidade de vida desses pacientes. Doenças reumatológicas infantis que cursam com artrite crônica e que resultavam em deformidades articulares incapacitantes há meio século, raramente fazem isso hoje, quando rápido diagnóstico e terapia individualizada são instituídas. Condições inflamatórias sistêmicas que eram frequentemente fatais, podem agora ser controladas por terapias mais específicas. Cura ainda é um objetivo que não foi alcançado em muitos casos, mas a completa remissão dos sinais e sintomas clínicos e boa qualidade de vida já são uma nova realidade na vida dos pacientes juvenis em seguimento adequado. Estamos no meio, ou talvez, apenas no início do período mais emocionante e gratificante do desenvolvimento da reumatologia pediátrica.

Fonte:
Schaller JG. The history of pediatric rheumatology. Pediatr Res 2005; 58: 997-1007.
Silva CA. Doenças Reumáticas na Criança e no Adolescente. 2ª. ed. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2010. v. 1. 332p.